Que tipo de brinquedo uma criança autista gosta?

Se você acessou este texto em busca de uma resposta pronta, ou de um apanhado de sugestões sobre o que comprar para uma criança com autismo, precisamos dizer que você encontrará bem mais do que isso. As dicas que reunimos aqui vão te mostrar que, na hora de comprar um presente para uma pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), você precisa pensar mais nela do que na condição em si.

Perguntar para os pais “qual brinquedo seu filho autista gosta” é o mesmo que perguntar “qual brinquedo sua filha de x anos gosta?” ou “qual brinquedo seu filho com cabelos pretos gosta?”. O autismo é uma característica como qualquer outra, e não influencia no fator maior que você deve considerar na compra de um presente: a criança enquanto indivíduo, com gostos e preferências próprias. Afinal, a melhor maneira de acertar ao presentear alguém é pensar na pessoa com empatia, seja ela criança ou adulto, abrindo mão dos seus preconceitos e das suas próprias preferências para entender o que a deixaria feliz.

É claro que para agradar alguém vale pesquisar o que essa pessoa gostaria de ganhar, mas esqueça os limitadores. Quando você pensa no que “uma criança com autismo” poderia gostar, você não está pensando naquela criança em especial, mas em qualquer criança. Olhando por esse lado, o autismo parece uma condição limitadora para o fato dela ser, em primeiro lugar, apenas uma criança. Repare que até mesmo quando você pergunta “que tipo de brinquedo” aquela criança gosta, você limita as escolhas dela a um brinquedo. E se ela preferir um livro? Ou um outro objeto? Quem sabe até um passeio?

Um ótimo exemplo desta reflexão aconteceu com o apresentador Marcos Mion, no Natal de 2015, quando foi surpreendido pelo pedido de seu filho autista para o Papai Noel: uma escova de dentes azul, história que acabou virando livro infantil.

É importante também pensar no que você pode dar, e não no que pode comprar — afinal nem todo presente precisa ser adquirido. Seu filho pode querer apenas passar mais tempo junto com você, ou que você leia para ele, ou que vejam um filme comendo pipoca em casa.

A melhor maneira de presentear uma criança, independente de suas características, é perguntar com sinceridade o que ela gosta e o que não gosta (de ganhar, de fazer, de ler), sem limitar suas escolhas. E isso vale também na hora de receber as respostas. Permita que seu filho se expresse da maneira que ele preferir: falando, desenhando, cantando, fazendo gestos, mostrando em um tablet, na TV ou num livro… Tenha paciência para compreendê-lo.

Se você está com dificuldade em escolher presentes para uma criança com autismo, e não se sente à vontade ou não sabe como conversar com ela, pode perguntar aos pais o que aquela criança gosta ou não gosta. Procure se informar também sobre as sensibilidades dela que devem ser evitadas — este é um dos aspectos mais importantes a considerar na hora de escolher um presente para uma pessoa que tem TEA. Levar em conta suas características pessoais ajudará a evitar desconforto, confusão, ansiedade, raiva… sentimentos reais e dolorosos para o autista. Afinal, como qualquer outra pessoa, ele tem sua própria opinião sobre o que é interessante, divertido, gostoso, bom ou ruim. E isso não deve ser encarado como estranho ou desrespeitoso. Uma criança (inclusive a criança autista) não é obrigada a gostar de um brinquedo só porque ele está na moda ou porque você iria gostar se ganhasse.

Por fim, escolhido e entregue o presente, não se sinta frustrado nem ofendido se a criança não der atenção a ele ou não se empolgar tanto quanto você gostaria. O que hoje não a atrai pode ser extremamente interessante daqui algum tempo. A mesma dica vale se a criança gostar mais da embalagem do que do presente em si. Isso é perfeitamente natural para ela, então não a obrigue a agir de forma diferente. Aliás, vale ter atenção redobrada nesse aspecto: brilhos, fitas, laços e amarrações nas embalagens podem desencadear desconfortos visuais ou táteis, gerando sobrecarga sensorial em algumas crianças autistas. Não encare nada disso como frescura ou birra, pois são situações que realmente incomodam e fazem mal a elas. Seja paciente, sempre.