Estudo com 68 mil crianças mostrou que a maioria das não-diagnosticadas foram meninas
Pesquisa recente publicada pela Academia Americana de Pediatria demonstrou que algumas crianças autistas não foram detectadas por um dos testes mais usados mundialmente para o risco de autismo, o M-CHAT, algumas delas com atrasos visíveis em habilidades motoras, sociais e de comunicação — a maioria, meninas (leia nosso texto sobre o difícil diagnóstico de autismo em mulheres). M-CHAT é a sigla para Modified Checklist for Autism in Toddlers — em português: Lista de Verificação Modificada para Autismo em Crianças.
O estudo, que avaliou mais de 68 mil crianças na Noruega — todas com um ano e meio de idade —, foi publicado em maio deste ano e sugere que melhorias nesse teste e em outros que ajudam a detectar o risco de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) podem auxiliar os médicos a captar esses sinais iniciais para encurtar o caminho do tão buscado diagnóstico precoce.
Crianças que tiveram risco de autismo descartado no teste do M-CHAT (aos 18 meses de idade) e que mais tarde foram diagnosticadas com a síndrome (falso negativo) mostraram-se com visíveis atrasos nas habilidades sociais, motoras e de comunicação comparados com o grupo que em nenhum momento foi diagnosticado com TEA. Ou seja, havia atrasos perceptíveis que poderiam ter sido alertados como risco de autismo com um ano e meio de idade e chegarem a um diagnóstico de autismo mais rapidamente. Essa diferenças foram maiores em meninas, que na maioria dos casos eram menos tímidas que as meninas neurotípicas (sem autismo).
Foram avaliadas 68.197 crianças classificadas como sem risco de ter autismo pelo M-CHAT. Dessas, 228 foram categorizadas como falsos negativos pelos seus médicos, que as diagnosticaram com autismo posteriormente.
Como foi o estudo
Inicialmente, os pesquisadores analisaram dados de um estudo do Instituto Norueguês de Saúde Pública, chamado Norwegian Mother and Child Cohort Study, que acompanha a saúde de mães e bebês, desde a gravidez. Aos 18 meses da criança, os pais preencheram o M-CHAT — que inclui seis perguntas críticas para o risco de autismo. Ao responder a pelo menos duas perguntas com um “não”, indica risco de Transtorno do Espectro do Autismo em algum grau.
Ao mesmo tempo, esses pais responderam também outros dois formulários de perguntas, todas relacionadas a habilidades motoras, sociais, de comunicação e para resolução de problemas, além de timidez, nível de atividade, comportamento social e questões emocionais.
Muitas dessas crianças com falso negativo tinham obtido notas baixas para essas habilidades na época nos dois questionários, mas, equivocadamente, não tiveram risco de autismo detectado pelo M-CHAT.
“Alguns dos testes usados atualmente foram projetados há muitos anos, quando não tínhamos muito conhecimento do que é o estágio inicial do autismo”, diz a pesquisadora que liderou o estudo, Katarzyna Chawarska , professora de pediatria no Yale Child Study Center, nos Estados Unidos.
Catherine Lord, diretora do Centro de Autismo e Desenvolvimento do Cérebro da Weill Cornell Medicine, em Nova York, que não teve envolvimento com este estudo, disse que são informações realmente importantes. “Os pais estão cientes de que seus filhos são um pouco diferentes” — disse ela ao site Spectrum News — “mesmo que eles não reconheçam essas diferenças relacionadas ao autismo”.
Uma outra pesquisa norueguesa (esta de 2014) mostrou que 70% das crianças autistas não foram detectados pelo teste M-CHAT. O contrário também aconteceu: 7% de crianças neurotípicas, ou seja, que não tinham TEA, foram classificadas com risco de autismo.
Conclusão
O estudo sugere que questionários sobre desenvolvimento, com múltiplas opções de resposta — e que apresentem exemplos mais concretos aos pais —, podem ser mais eficientes que os com apenas “sim” ou “não”, como é o M-CHAT. Outra conclusão é de que, tratando-se de autismo, os médicos não devem confiar em apenas um teste.
Para os próximos passos, os pesquisadores pretendem analisar os dados coletados de crianças em idades mais avançadas. Eles esperam encontrar mais diferenças entre as crianças identificadas com autismo e aquelas que não tiveram esse risco detectado.
A pesquisa original completa, em inglês, pode ser baixada em PDF aqui neste link.
Com informações do Spectrum News.